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15 de dezembro de 2011

TER

Pra que TER? Questionei, como sempre, essa questão de possuir - e dessa vez, um barco! E após se TER, o que FAZER com aquilo que se tem? Que responsabilidade imensa - pensei. 
Não estava errada.
Um veleiro é custoso de se manter. A idéia era fazer charter, ou seja: passeios. O que fazíamos em barcos de terceiros, agora, estava a nosso cargo. Não me agradava a idéia, fui sincera. Mas como era a realização de um sonho... participar do sonho VALEU A PENA.
Aturar aquele povo fútil e fora da realidade que embarca em veleiros de salto alto e sem querer molhar a bundinha, no entanto, é dose pra leão.
Estávamos em La Maddalena quando o Paul viu, pela primeira vez, o Morning Glory, um Sparkman Stevens de 43 pés, bojudíssimo (orça bem), lindo, mas em estado de aparente abandono. Soubemos que era resultado do espólio de uma separação entre alemães. 
Depois de alguns contatos, entramos no meu Renault velho de guerra, com motor dois tempos, e pegamos a estrada pelos alpes alemães, até chegarmos a Garmisch-Partenkirshen. Lá, conhecemos a proprietária do barco: com dois filhos, muito afetada pela separação, ela aceitou prontamente a oferta, e foi tão generosa, que nos alojou em casa, e nos deu de comer o arroz-com-feijão alemão: salada de batata com salsicha.
Foi dessa forma que compramos um veleiro em plena região de montanha, em apenas 30 minutos (pois lá os cartórios realmente funcionam!!!!), e com neve até os joelhos.
Esse fato nos fez encarar de frente o que é TER. A bem da verdade, é um verbo que serve de base para definir socialmente toda a condição humana. Pensa bem: o que é ter uma casa? E uma família? O que é ter um amor? E ter uma doença, o que é? O que é ter um filho? 
Será que "temos" mesmo = possuir, valorar, e consequentemente, julgar? Ou será que um verbo melhor para isso não seria "SER PRESENTEADO PELA VIDA"?  


Um comentário:

  1. Pegando uma trilha no seu delicioso conflito filosófico, agrego um link de um tópico recém publicado em meu blog [http://carldantas.blogspot.com/2011/12/neuroticos-postos.html] que vislumbra um pouco o exercício social de ter (ou não ter) coisas.
    De qualquer forma fiquei com vontade de comer um prato de kartoffelsalat mit bratwurst.

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