Os dias em Recife são quentes, tão quentes que me causaram uma desidratação profunda, e convulsões, que só foram curadas pela mágica água de coco.
Naquele dia, porém, Recife lembrava suas origens holandesas: tempo chuvoso, quase frio, e uma névoa intensa cobria a entrada da barra de Recife - a foz do rio que desce das Reservas Ecológicas de Manassu, Mata de Mussaiba e Mata da Jangadinha. Brincando com os binóculos amarelos, vejo surgir um veleiro. Pensei que vinha de longe - ninguém sairia pra velejar num dia daqueles. Continuei olhando pelos binóculos. O proeiro viu o amarelo e acenou. Eu acenei de volta.
No dia seguinte, acordamos e vimos os gringos ancorados ao nosso lado. Remando, perguntaram se sabíamos onde vender whisky. Não sabíamos. Depois de alguns dias nos mudamos para o Iate Clube Cabanga, do outro lado da favela Brasília Teimosa, onde havia mais conforto.
Na espera, soube de um show em Campina Grande, na Paraíba, onde tocariam Chiclete com Banana, Gilberto Gil e Cateano. Convidei os gringos que também haviam se mudado para o nosso lado. Fomos todos, sem meu capitão, que não queria deixar o barco sozinho.
A casa de forró ficava no meio do nada e ao chegarmos, as minhocas da terra avistaram e cataram cada gringo com uma rapidez de Maria Bonita. Eu me divertia ao observar os caras totalmente sem jeito ao terem que encaixar as coxas nas coxas das meninas e rebolar. O americano era o mais fora de ritmo. Havia também um belga, um galês, um sul africano e o capitão, que era australiano.
Na volta, cantávamos no ônibus, eu e mais outros brasileiros alegres. Sob a música, algo aconteceu: surgiu um clima entre eu e Paul, o sul africano - o proeiro que me acenara na chegada. Aquilo durou alguns dias e teve consequências óbvias, mas, também, um desfecho inesperado. O fato é que ele me convidou a prosseguir com eles.
Assim, aos 21 anos, entrei para a tripulação do Berg Wind. Nosso destino era Cape Town, na África do Sul. Na rota para os mares do sul, partimos sob o comando de Robert Hossack em direção ao Rio, para depois baixarmos aos "40 rugidores".
O Miss Global foi para o Caribe mais tarde, com uma nova tripulante, a Fabiana.
E eu me tornei nômade. Desde então, sou cidadã do mundo.
Por isso, quero alimentá-lo.
Cara, tô adorando! É como viver um tiquinho de td q vc viveu! Show! E os textos estão bem elaborados, dá vontade de ler o próximo! Adorei!
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