Logo que chegamos a Palma de Majorca conseguimos trabalho a bordo de um barco de 114 pés construído no Canadá, batizado de "Act IV".
O novo proprietário não era bobo nem nada: resolveu fazer a transação da compra fora das águas territoriais espanholas, para não ter que pagar as taxas.
Aquele homem extraordinário também pegou o lote inteiro de armas (leves e pesadas) que foram vendidas com o barco, por seu antigo proprietário árabe, e simplemente as jogou bora afora no fundo do porto. Seria interessante se eu tivesse cronometrado a rapidez com que apareceram mergulhadores naquele lugar.
Aquele exagero de embarcação tinha um piano e uma jacuzzi a bordo, dois gigantescos geradores Caterpillar e as catracas eram elétricas. Isso significa que na viagem entre Majorca, Las Palmas de Gran Canaria, Antigua e Granada, pude contar nos dedos as vezes que vi as velas içadas. Não éramos muito felizes ali.
Nosso capitão era um americano parecido com George Bush, com cara de frustrado. Já o chefe, era um pequeno homem, que nos pagava o salário nota por nota, dizendo uma frase famosa, título de uma canção do Elvis, assim traduzida: "O que vem fácil, vai fácil"...
E, típico desse mundo dos negócios: meu salário era igual ao do Paul dividido por dois, porque "você é mulher", especialmente considerando que eu era a única que mantinha aquele barco inteiro limpo, e as pessoas, alimentadas.
Essa é a natureza de alguns. Essa gente fez o mundo girar até agora, tornando o mundo o que é. Um mundo onde muitos vão morrer no próximo minuto, e onde alguns poucos poderiam evitar toda essa tragédia com um gesto humano no bolso. O juízo disso é todo seu.
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